quarta-feira, agosto 27, 2008

Caracterização dos acidentes e doenças do Trabalho

Caracterização dos acidentes e doenças do Trabalho

Existe uma cultura - dentro das empresas e também entre nós da prevenção - que leva parte das pessoas a estar sempre buscando argumentos para a descaracterização do acidente e da doença do trabalho. Quem me conhece sabe que penso que uma área técnica não dever mais do que isso - mas para ser área técnica há necessidade de entender um pouco mais do que apenas letras. Há necessidade também de entender um pouco da \"intenção do legislador\" - em especial quando as leis regulam uma relação entre partes - digamos assim - com poder e força bastante diferentes.

A legislação sobre acidente do trabalho - seja aqui, seja na China, seja onde for - quando é moderna e atual - tem embutida em si a consciência da relação capital x trabalho e não poderia ser diferente. Isso não e política - é regra social.

como digo com muita freqüência, nos aqui no Brasil temos um problema a mais a ser analisado: a falta de garantias sociais associa o trabalho a condição de cidadania. Com isso quero dizer que lá nos EUA, na França ou na Noruega - estar sempre emprego não é sinônimo de deixar de ter acesso à saúde, transporte, credito, alimentação, etc. Aqui não - aqui quando não se tem emprego a coisa pega. Isso com certeza leva a uma serie de artimanhas assumidas por alguns trabalhadores e mesmo por algumas instituições que os representam - obvio que não nos cabe discutir como profissionais (como cidadãos seria perfeito) esta dinâmica da relação social - ao mesmo tempo não podemos desconhece-la quando estudamos algumas situações.

Por outro lado há de se entender que o fato de uma área ter legislação especifica acaba facilitando o trabalho dos profissionais e a definição dos assuntos triviais, mas de forma alguma encerra o assunto - e ai entra a atuação firme dos profissionais que estudam e se atualizam e mais do que isso educam suas visões para distante dos extremos sociais. Prova disso são as ações de periciais sérias e bem elaboradas. Não há e nem haverá como correlacionar todos os danos que um tipo de trabalho possa causar - muitos inclusive que hoje nem são pensados irão surgindo - e surgirão pelo estudo e pesquisa passando distante dos paradigmas atuais. SE há dez anos falássemos em danos psicológicos ririam de nossas palavras - hoje é uma realidade - porque o mundo começa a ver o homem como mais do que um par de mãos.

Prevenção não se faz para atender placa de numero de acidentes em porta de fábrica. Prevenção se faz prioritariamente para garantir o direito à vida e sua plenitude. No modelo atual as pessoas discutem custo x beneficio - isso pode parecer formal e normal - mas como discutir isso quando se tem consciência de que fazer ou não pode custar a vida e a saude de alguém ? Esta inversão de valores - doença social - é perigosa demais. Para entende-la melhor é bom que na hora de definir - coloquemos no lugar do trabalhador alguém de nossos entes queridos e tomemos a decisão como se fosse para este. Não é direito de ninguém decidir se outro alguém vai ficar meio surdo, meio imóvel, etc. Não existe direito a \"meia vida\".

Portanto parece mais do que ético - e refiro-me a ética primeira e essencial do respeito entre os seres humanos - deixando a subetica de lado - que tenhamos ao menos zelo e cuidado na hora de relacionar causas e efeitos. E uma das partes da ética diz respeito a ética com a profissão - onde se não conhecemos a fundo um assunto e esta ausência de conhecimento pode implicar em dando a alguém - procuramos apoio em especialistas.

Para jamais de perder no caminho - mesmo que o conhecimento seja dos mais amplos - há necessidade de basear a atuação profissional em valores que vem e existem muito antes do conhecimento técnico.

Cosmo Palasio de Moraes Jr.

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