quarta-feira, maio 09, 2012

Trabalho em condições hiperbáricas

Trabalho em condições hiperbáricas


El trabajo en condiciones hiperbáricas

Work in hyperbaric conditions


*Enfermeiro Sanitarista – Discente do Curso de Pós Graduação Lato Sensu

Especialização em Enfermagem do Trabalho do Centro de Ensino Literatus

**Professor Orientador – Centro de Ensino Literatus

***Especialista em Saúde do Trabalhador

(Brasil) Micherlan Pereira da Silva*

MSc. Jansen Atier Estrazulas**

Elias Pereira de Lacerda***

micherlanps@bol.com.br





Resumo

As atividades profissionais desenvolvidas em ambientes hiperbáricos vem-se mostrando bastante promissoras. Duas vertentes de trabalho são descritas: o mergulho em grandes profundidades e uso do ar comprimido em câmaras hiperbáricas com a finalidade terapêutica. Como metodologia foi utilizada à pesquisa qualitativa descritiva, baseada em pesquisa bibliográfica, tendo como objeto de estudo o trabalho em condições acima da normalidade. Neste sentido, este trabalho tem como objetivos descrever profissões que atuam nessas condições, expondo a legislação vigente para o trabalho com ar comprimido e apresentar as principais patologias relacionadas ao ambiente pressurizado.

Unitermos: Trabalho. Hiperbárica. Mergulho

http://www.efdeportes.com/efd142/trabalho-em-condicoes-hiperbaricas.htm

Introdução

O interesse pelo tema Trabalho em condições Hiperbáricas se desenvolveu apartir de estudos referentes ao papel do Enfermeiro no tratamento de feridas com oxigenoterapia hiperbárica. Mas, o trabalho sob pressão atmosférica elevadas não se restringe apenas à vertente terapêutica, pois essa prática de trabalho é muito utilizada por mergulhadores de alta profundidade. Seja qual for à modalidade profissional, este tipo de atividade está diretamente relacionado aos aspectos físicos e fisiológicos do mergulho, sendo que o trabalhador hiperbárico utiliza cilindro com ar comprimido para respirar. O maior problema do mergulho é a descompressão, que é a retirada dos gases que estão dissolvidos no sangue, que acontece na subida lenta para retornar à superfície. Em altas pressões, um maior número de partículas de gases consegue se dissolver no sangue e se há uma mudança muito brusca da pressão externa (subida muito rápida), os gases que estão dissolvidos no sangue tentarão sair do corpo.

Este estudo possui relevância social que pode ser apontado por dois momentos distintos. No primeiro momento pelo crescimento atual do número de profissionais mergulhadores para o suprimento das necessidades do mercado de trabalho que se mostra promissor, tendo em vista a hegemonia brasileira na exploração de petróleo e seus derivados. A atual descoberta de imensas reservas petrolíferas na extensa área marítima brasileira (camada pré-sal, bacia de Campos, entre outras) se faz indispensável as atividades de mergulho profundo para o dinamismo de tarefas explorativas.

No segundo momento as atividades hiperbáricas se aproximam da sociedade através do uso da OHB (Oxigenoterapia Hiperbárica) como método terapêutico alternativo para diversas patologias, como: no auxílio para cicatrização de feridas refratárias (Úlceras de pele, pé diabético, escaras de decúbito, úlceras por vasculites auto-imunes, deiscências de sutura), queimaduras térmicas ou elétricas, osteomielite, Envenenamento por monóxido de carbono ou inalação de fumaça, gangrena gasosa, entre outras. Além disso, serve como tratamento para acidentes provenientes de atividades de mergulho, no qual podemos citar as embolias gasosas, doença descompressiva e embolia traumática pelo ar. Por fim, a relevância acadêmica é demonstrada pela escassez de literatura que embase uma reflexão sobre trabalhos em ambientes pressurizados.

Este artigo tem o objetivo principal de descrever sobre o trabalho em ambientes no qual a pressão atmosférica se encontra acima dos valores normais. A escolha do tema se inicia pela experiência profissional do pesquisador no tratamento de feridas com oxigenoterapia hiperbárica, tendo em vista, que o referido tratamento é realizado em compartimentos selados resistentes a pressão: as chamadas câmaras hiperbáricas.

Análise metodológica

Este trabalho foi realizado através do método qualitativo, descritivo, do tipo estudo bibliográfico, sendo os dados da pesquisa coletados em livros, artigos científicos, legislações trabalhistas, manuais, entre outras fontes bibliográficas.

Conforme Ander Egg in Lakatos (2006, p.43):

A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo quer requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: É encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos. Especificamente é “um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento”.

Para Minayo (2003) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Esclarece que a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não captável em equações, médias e estatísticas.

Conforme indicam Marconi e Lakatos (2002, p. 43) “a pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias trata-se de levantamento de toda bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita...”

Contexto histórico do trabalho hiperbárico

Etimologicamente, hiperbárico é o termo composto pelos radicais hiper + baros. Hiper é um prefixo grego que indica excesso ou acima; baros, também oriundo do grego, indica pressão, peso ou densidade. Também relacionado com, produzindo, operando ou ocorrendo em pressões maiores que a pressão atmosférica normal.

Para discorrer sobre a prática em ambientes pressurizados é indispensável um breve histórico sobre o surgimento das práticas de mergulho. Tendo em vista, que a mesma é uma atividade humana de origem tão remota que existem provas que datam do ano 2.000 A.C., encontradas no Peru. Durante séculos tentou-se diferentes formas de equipamentos para realização de mergulhos.

Segundo o manual de oxigenoterapia em 1623 inventou-se um traje de mergulho que recebia ar da superfície por meio de uma mangueira de couro e uma draga, para recuperar tesouros. No ano de 1837 o inglês Siebe revolucionou os sistemas de mergulho existentes ao desenhar uma roupa de mergulho fechada, exceto nas mãos, na qual o mergulhador ficava protegido do frio e dos contatos com fundo marinho, e o ar era suprido da superfície por uma mangueira, mediante uma bomba. Mais de um século depois um engenheiro e um oficial da Marinha de Guerra francesa, Cousteau, construíram o que seria o equipamento autônomo para respiração subaquática, com o complemento de nadadeiras, o que permitia ao homem nadar em qualquer direção.

Com o passar dos anos, o desenvolvimento e o incentivo as explorações submarinas petrolíferas, fez-se necessário a utilização de equipamentos mais sofisticados e pessoal melhor qualificado para a realização dessa atividade que se tornava cada vez mais complexa, devido a profundeza das reservas de petróleo. Com isso o efeito narcótico do nitrogênio dificultava a realização de mergulhos em maiores profundidades e limitava o tempo de permanência no fundo.

Em 1925 a empresa Experimental Diving Unit dos Estados Unidos interessou-se pelo hélio, um gás neutro que parecia ser capaz de substituir com vantagem o nitrogênio nas misturas respiratórias. Descobriu-se que o hélio permitia mergulhos a profundidades muito maiores e por mais tempo, sem o aparecimento da perigosa narcose (termo que pode ser entendido como uma depressão reversível e inespecífica do Sistema nervoso central, produzida por diversas substâncias).

Nos anos 60, foi desenvolvido o conceito de Mergulho de Saturação, pelo fato do gás inerte equilibrar-se com a pressão ambiente em todos os tecidos. Um mergulhador permanecendo por certo tempo em determinada profundidade, saturará todas as partes do seu organismo.

Este conceito permite a permanência de mergulhadores executando trabalhos submersos, sob severas pressões, por vários dias.

Ainda sobre achados históricos, o uso de ambientes hiperbáricos para fins terapêuticos também é apresentada em diferentes épocas. Já por volta de 1600, profissionais variavam a pressão atmosférica na tentativa de curar, Usando um sistema de órgãos de foles. Em 1622 um clérigo britânico chamado Henshaw podia ajustar a pressão dentro de uma câmara selada chamada domicilium. O princípio simplista por detrás de seu uso era que condições agudas responderiam a pressões atmosféricas elevadas, ao passo que condições crônicas se beneficiariam a partir da redução da pressão.

Em 1670, Robert Boyle observou como o olho de uma serpente podia emitir uma bolha de gás visível através da córnea (a membrana transparente externa na frente do olho). Ele concluiu que tecidos submetidos a descompressão rápida podiam emitir bolhas de gases previamente dissolvidos. Sua conclusão está incluída na lei de Boyle, a qual declara que em uma temperatura constante, o volume e a pressão de um gás são inversamente proporcionais. Em outras palavras, um gás irá comprimir proporcionalmente a quantidade de pressão exercida sobre ele.

Com passar do tempo, aparelhos de ar comprimido evoluíram na aparência e função. Também foi descoberto que o uso de ar comprimido podia facilitar outros métodos. Por volta de 1830, alguns médicos franceses empregaram os então chamados “banhos de ar comprimido” para uma série de males, tais como tuberculose pulmonar, surdez, cólera, anemias, hemorragias e coqueluche.

Um cirurgião francês chamado Fontaine criou uma câmara móvel que tirava proveito de uma lei básica da física (lei de Henry), a qual declara que a solubilidade de um gás num líquido é proporcional a pressão do gás sobre a solução, fazendo com que nenhuma reação química ocorra. Ao aumentar a pressão atmosférica dentro da câmara, Fontaine foi capaz de aumentar a quantidade de oxigênio transportada pela corrente sanguínea do paciente durante a administração da anestesia com óxido nítrico. Isto impedia que os níveis sanguíneos de oxigênio caíssem muito como tipicamente ocorria com aprofundamentos anestésicos cirurgicamente aceitáveis.

O autor Caixeta (1999, p.2) relata que:

Em 1878 Paul Bert, em seu famoso livro “La Pression Barometrique”, estudou pela primeira vez, as bases fisiológicas do tratamento hiperbárico, mostrando a intoxicação pelo oxigênio sob pressão no organismo animal, e em 1895, Haldane demonstrou experimentalmente com animais de laboratórios, o efeito protetor do oxigênio hiperbárico no tratamento da intoxicação pelo monóxido de carbono. Embora tenha havido relatos da utilização de oxigênio puro em câmaras hiperbáricas, este procedimento só foi aceito pela comunidade científica a partir de 1930 e limitava-se, praticamente, ao tratamento de casos de Doença Descompressiva (DD) entre mergulhadores. Estudos realizados nos EUA e Europa começaram a estabelecer os limites de segurança na utilização do oxigênio puro sob pressão.

No início do século XX, Cunnigham observou que pacientes com doença cardiovascular que morassem em altitudes maiores passavam piores que pacientes comparáveis vivendo mais próximos do nível do mar. Suspeitando que mudanças altitude-dependentes da pressão atmosférica fossem as responsáveis, Cunningham formulou a hipótese de que aumentando a pressão além de um nível normobárico conferiria um benefício ainda maior. Ele tratou com sucesso uma jovem colega com gripe que estava próxima da morte por falta de oxigênio secundário a restrição da função pulmonar. Com aquele sucesso inflando sua confiança, ele desenvolveu uma câmara cilíndrica de aproximadamente 3 metros de diâmetro por 27 metros de comprimento, que podia ser usada para muitos problemas.

A sorte de Cunningham tomou outra guinada após a recuperação de um paciente afligido com doença renal. Atribuindo sua recuperação a terapia hiperbárica, o paciente agradecido construiu para Cunningham uma câmara perfeita para um rei. Esta câmara, construída em Kansas City em 1921, era uma bola inteira de aço de aproximadamente 20 metros de diâmetro e equipada com uma sala de espera, sala de refeições, tapetes caros e quartos particulares.

Ainda sobre o contexto histórico o autor Caixeta afirma que no Brasil, em 1930, o professor e médico Dr. Osório Augusto de Almeida (figura1), no Hospital das Clínicas de São Paulo, passou a utilizar a OHB experimentalmente no tratamento de diversas patologias, sendo o primeiro brasileiro e usar câmara hiperbárica em medicina como terapêutica.

Em 1955, Churchill-Davidson, na cidade de Londres, realizou experiências combinando este método com o tratamento pelos raios X para irradiação de tumores malignos. No mesmo ano em Amsterdam, o médico Boerema utilizou experimentalmente o ambiente hiperbárico para executar cirurgia cardiovascular, e juntamente com Brummelkamp, introduz a OHB no tratamento de casos de gangrena gasosa. Em 1960, Smith e Sharp e Glasgow, obtiveram excelentes resultados com o tratamento de intoxicação pelo monóxido de carbono (CO) através da OHB.

Foi a partir de 1955, outros estudos foram feitos na Europa e nos EUA, nestes países começaram os estudos sobre os efeitos biológicos que ocorrem quando uma pessoa, além de ser submetida a pressões elevadas, respira oxigênio a 100%. A partir daí estavam iniciadas as bases da Oxigenoterapia Hiperbárica. Foram necessários porém muitos anos de pesquisa, além de uma boa dose de persistência e coragem, para que esta terapêutica passasse a ser reconhecida (Dias, 2000).

Caixeta salienta que o ano de 1967 foi o início de tudo. Ocorreu um simpósio internacional e deste evento nasceu à primeira sociedade que recebeu o nome de “Undersea and Hiperbaric Medical Society”. Nesta mesma década a Marinha brasileira iniciava-se a utilização de câmaras hiperbáricas no tratamento de acidentes específicos de mergulho, entre outros casos clínicos que necessitavam de terapêutica descompressiva.

Oxigênio e a Física do Mergulho

As atividades desenvolvidas em ambientes hiperbáricos estão diretamente relacionadas com o oxigênio e o mergulho, para melhor compreensão das mesmas serão necessários conhecimentos pertinentes à física do mergulho e a lei dos gases.

O nome oxigênio (do grego oxis = ácido e geno, da raiz yev = gerar) foi dado por Lavoisier (Antonier Laurent Lavoisier (1743-1794), Considerado o pai da química, foi o primeiro a observar que o oxigênio, em contato com uma substância inflamável, produz a combustão. Descobriu a função do O2 na respiração, nas oxidações, nas reações químicas e foi também quem propôs o seu atual nome). Em 1774 após ter observado que existiam muitos ácidos que continham o mesmo como componente.

Segundo Ferreira (2000, p. 506):

Oxigênio (cs) Sm. Quím. 1. Elemento de número atômico 8 [simb: O]. V. calcogênio. 2. Forma diatômica do oxigênio (1), gás que constitui cerca de 21% da atmosfera, incolor, insípido, com grande atividade química, indispensável a quase todas as formas de vida [fórm: O2].

No planeta terra, nas condições normais de temperatura e pressão o oxigênio se encontra no estado gasoso, representando aproximadamente 20% da composição da atmosfera terrestre.

É um dos elementos mais importante da química orgânica, sendo indispensável para manter a vida a cada instante, através de processos biológicos e bioquímicos que ocorrem no interior das células.

O oxigênio é transportado pela hemoglobina através do sangue e se difundi até chegar a uma organela citoplasmática chamada de mitocôndria. No interior da mesma o átomo de oxigênio para ser utilizado deve ser separado da molécula de oxigênio, através de um processo bioquímico conhecido como fosforilação oxidativa, resumidamente, o oxigênio, ao ser utilizado, gerando gás carbônico e água, produz um composto de alta energia, que é a adenosina trifosfatase (ATP), que posteriormente será utilizado como fonte de energia para qualquer trabalho bioquímico realizado pela célula. Responsável pela respiração celular a mitocôndria fornece energia necessária para diversas funções celulares.

Em todas as misturas respiratórias o oxigênio é relevante. A maior parte dos seres humanos está fisiologicamente adaptada a viver ao nível do mar, onde a pressão ambiente é de 1 atmosfera absoluta e a pressão parcial de oxigênio é de aproximadamente 0,21 ATA. Há quem sobreviva na altitude a pressões com 0,1 ATA de oxigênio no ar inspirado. Considera-se normalmente 0,16 ATA o mínimo para sobreviver. No mergulho, o oxigênio deve estar presente numa pressão parcial de 0,2 ATA para evitar hipóxia (MARQUES, 2004).

A Lei dos Gases

De acordo com o manual de oxigenoterapia os gases estão submetidos a três fatores que estão intimamente relacionados entre si: temperatura, pressão e volume. Quando exposto as diferentes pressões e temperatura seu comportamento é explicado pela teoria da energia cinética dos gases, que estabelece que: “A energia cinética de todos os gases, a uma dada temperatura, é a mesma”.

Para qualquer gás, se o número de impactos ou a força de impacto variar, haverá alteração na pressão. Se a temperatura aumentar, haverá um acréscimo na velocidade das moléculas que resultarão em impactos de maior força e freqüência, aumentando a pressão. Se a temperatura diminuir, a velocidade das moléculas será mais lenta, diminuindo a força e freqüência dos impactos, conseqüentemente a pressão será menor.

A variação do volume também altera a pressão. Reduzindo o volume, o número de impactos aumentará conseqüentemente, sua pressão será maior. Se aumentarmos o volume conseqüentemente a pressão diminuirá.

De acordo com a Teoria Cinética dos Gases, a mudança em um dos fatores (volume, temperatura e pressão) resultará em alteração dos outros fatores.

As leis dos gases envolvidas no mergulho são:

Lei de Boyle – Descrita pelo Britânico Robert Boyle (1627-1691) que se destacou pelos seus trabalhos no âmbito da física e da química.

“Se a temperatura permanece constante, o volume de um gás variará inversamente com a pressão absoluta” (figura 1).



Figura 1. Lei de Boyle

Fonte: www.feridologo.com.br

Lei de Charles – Também conhecida como lei de Gay-Lussac, é a lei dos gases perfeitos, afirma que: à uma pressão constante, o volume de uma quantidade constante de gás aumenta proporcionalmente com a temperatura.

“A pressão absoluta e o volume de um gás variam, cada um, diretamente com sua temperatura absoluta” (figura 2).



Figura 2. Lei de Charles

Fonte: Manual EFEMDHB, 2001

Lei de Dalton – O químico e Físico Inglês John Dalton descreve que:

“A pressão exercida por uma mistura de gases é igual à soma das pressões parciais de cada gás na mistura”

Lei de Henry – Publicada em 1803 pelo químico Inglês William Henry , esta formulação equaciona a solubilidade do gases em líquidos:

“A quantidade de gás que dissolve num meio líquido, a uma determinada temperatura, é diretamente proporcional à pressão do gás sobre o líquido”.

Trabalhos em ambientes hiperbáricos

Mergulho

Atualmente as atividades de mergulho podem ser classificadas de diferentes formas, Como por exemplo, o mergulho em apnéia no qual o mergulhador não respira, logo, permanecendo um tempo restrito sob a água. Ao contrário do mergulho com respiração subaquática que é realizado com a utilização de algum tipo de equipamento para provir ar ao mergulhador. Essa classificação ainda pode ser dada por:

Quando ao gás respirado e profundidade:

1. Mergulho com gás comprimido = mergulho raso. Profundidade de até 50 metros. É o limite para a utilização do gás comprimido.

2. Mergulho com mistura respiratória artificial (MRA) = mergulho fundo. Profundidade maior que 50 metros. É usada uma mistura respiratória, composta de hélio e oxigênio (HeO2).

Quanto ao tempo:

1. Mergulho Simples: é aquele realizado após um período maior que 12 horas de outro mergulho;

2. Mergulho Repetitivo: é aquele realizado antes de decorridas 12 horas do término de outro mergulho;

Quanto ao tipo de equipamento:

1. Mergulho autônomo: é aquele no qual a fonte de respiração é transportada pelo mergulhador;

2. Mergulho dependente: é aquele no qual a fonte respiratória está na superfície, e chega ao mergulhador através de uma mangueira integrante do "umbilical".

3. Mergulho com umbilical ligado diretamente a superfície: o mergulhador está preso a superfície, pela linha de vida. Somente permitido em mergulho até 50 metros;

4. Mergulho com Sino Aberto (Sinete): campânula com a parte inferior aberta e provida de estrado, de modo a abrigar e permitir o transporte de no mínimo dois mergulhadores da superfície ao local de trabalho.

Deve possuir sistema próprio de comunicação, suprimento de gases de emergência e vigias que permitam a observação de seu exterior. É permitido em mergulhos de até 90 metros;

5. Mergulho com Sino de Mergulho (fechado): Câmara hiperbárica especialmente projetada para ser utilizada em trabalhos submersos, com a mesma pressão do ambiente de trabalho. É uma campânula fechada, utilizada para transferir os mergulhadores, sob pressão, entre o local de trabalho e a câmara de descompressão de superfície;

Aspectos legais

A legislação brasileira que regula os trabalhos desenvolvidos em ambientes hiperbáricos teve seu início com a criação da Portaria nº 73 de 02 de maio de 1959, que dispõe sobre o tempo útil de trabalho sobre tabela de descompressão, mas tal normatiza fazia referencia apenas às operações do escafandrista.

O Quadro de Atividades e Operações Insalubres da Portaria 491 de 16 de setembro de 1965, classificava como insalubridade de grau médio o trabalho com equipamentos ou em ambientes com excesso de pressão, tais como escafandros e caixões pneumáticos.

Atualmente as normas que regem as atividades submersas são:

1) Trabalhos Submersos, item 2 do Anexo 6 da NR-15, instituída pela Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, com a redação dada pela Portaria 24, de 14 de setembro de 1983. De acordo com a Norma regulamentadora 15(anexo 6) que descreve sob o trabalho em condições hiperbáricas

• Item1.1: “Trabalhos sob ar comprimido são os efetuados em ambientes onde o trabalhador é obrigado a suportar pressões maiores que a atmosférica e onde se exige descompressão de acordo com as tabelas anexas”.

• Item 1.3.1: “Todo trabalho sob ar comprimido será executado de acordo com as prescrições dadas a seguir e quaisquer modificações deverão ser previamente aprovadas pelo Órgão Nacional competente em Segurança em Medicina de Trabalho”

• Item 1.3.2: “O trabalhador não poderá sofrer mais de uma compressão num conteúdo de 24 horas.”

• Item 1.3.3: “Durante o transcorrer dos trabalhos sob ar comprimido, nenhuma pessoa poderá ser exposta à pressão superior a 3,4 kgf/cm2, exceto em caso de emergência ou durante tratamento em câmara de recompressão sob supervisão direta do médico responsável.”

• Item 1.3.4: “A duração do período de trabalho sob ar comprimido não deverá ser superior a 8 horas em pressões de trabalho de 0 a 1,0 kgf/cm2; a 6 horas em pressões de trabalho de 1,1 a 2,5 kgf/cm2; e a 4 horas, em pressão de trabalho de 2,6 a 3,4 kgf/cm2.”

• Item 1.3.9: “Junto ao local de trabalho deverão existir instalações apropriadas à Assistência Médica”, à recuperação, à alimentação e à higiene individual dos trabalhadores sob ar comprimido”.

• Item 1.3.11: “Todo empregado sem prévia experiência em trabalhos sob ar comprimido deverá ficar sob supervisão de pessoa competente e sua compressão não deverá ser feita se não for acompanhado, na campânula, por pessoa hábil para instruí-lo quanto ao comportamento adequado durante a compressão”.

• Item 1.3.13: “Para efeito de remuneração, deverão ser computados na jornada de trabalho, o período de trabalho, o tempo de compressão, descompressão e o período de observação médica.”

• Item 1.3.14: “Em relação à Supervisão Médica para o trabalho sob ar comprimido deverão ser observadas essas seguintes condições:”

a) Sempre que houver trabalho sob ar comprimido, deverá ser providenciada a assistência por médico qualificado, bem como local apropriado para atendimento médico;

b) Todo empregado que trabalhe sob ar comprimido deverá ter uma ficha médica onde deverão ser registrados os dados relativos aos exames realizados;

c) Nenhum empregado poderá trabalhar sob ar comprimido, antes de ser examinado por médico qualificado, que atestará, na folha individual, estar essa pessoa apta para o trabalho;

d) O candidato considerado inapto não poderá exercer a função enquanto permanecer sua inaptidão para esse trabalho.”

• Item 1.3.15.1: “Deverá estar presente no local pelo menos uma pessoa treinada nesse tipo de trabalho e com autoridade para exigir o cumprimento, por parte dos empregados, de todas as medidas de segurança preconizadas neste item,”

• Item 1.3.15.7: “A comunicação entre o interior dos ambientes sob pressão de ar comprimido e o exterior deverá ser feita por sistema de telefone ou similar”

• Item 1.3.16: “A compressão de trabalhadores deverá obedecer às seguintes regras:

e) Se algum dos trabalhadores se queixar de mal-estar, dores no ouvido ou na cabeça, a compressão deverá ser imediatamente interrompida, e o encarregado reduzirá gradualmente a pressão da campânula até que o trabalhador se recupere e não ocorrendo a recuperação, a descompressão continuará até a pressão atmosférica, retirando-se, então, a pessoa e encaminhando-a ao serviço médico”.

• Item 1.3.19 “As atividades ou operações realizadas sob ar comprimido serão consideradas insalubres de grau máximo.”

2) Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas NORMAN-15, aprovada pela Portaria 09 de 11 de fevereiro de 2000.

3) Para o uso de ambientes hiperbáricos com finalidade terapêutica, deve ser cumprida a resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1457/95.

Resolução C.F.M. nº 1457/95

O Conselho Federal de Medicina, no uso de suas atribuições que lhe confere a lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958.

Resolve:

Adotar as seguintes técnicas para o emprego de OHB:

• Item1.1. “A Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) consiste na inalação de oxigênio puro, estando o indivíduo submetido a uma pressão maior do que a atmosférica, no interior de uma câmara hiperbárica;”

• Item1.3. “Não se caracteriza como Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) a inalação de 100% de O2 em respiração espontânea ou através de respiradores mecânicos em pressão ambiente, ou a exposição de membros ao oxigênio por meio de bolsas ou tendas, mesmo que pressurizadas, estando a pessoa em ar ambiente.”

• Item 2. “A indicação da Oxigenoterapia Hiperbárica é de exclusiva competência médica.”

• Item 3. “A aplicação da Oxigenoterapia Hiperbárica deve ser realizada pelo médico ou sob sua supervisão.”

Patologias relacionadas ao trabalho pressurizado

Conforme o autor Caixeta 1999, existem diversas patologias relacionadas diretamente com o trabalho em condições hiperbáricas dentre elas:

Barotraumas

Quando o indivíduo é submetido a uma diferença de pressão ambiente, os efeitos sensíveis ocorrem nas cavidades recheadas de ar, como os pulmões e os ouvidos. Ao submetermos o organismo a um ambiente pressurizado, a Lei de Boyle atrapalha (o volume de um gás é inversamente proporcional à pressão). Todos nós já experimentaram alguns destes efeitos, como na descida de uma serra ou mergulhando em uma piscina : a sensação de sentir os ouvidos "abafados" revelam que a pressão está aumentando sobre nosso corpo.

Barotrauma de ouvido médio

Os ouvidos possuem uma região atrás do tímpano, chamada de ouvido médio, que está cheia de ar para funcionar como uma caixa acústica, com espaço para a vibração da membrana do tímpano. Justamente por ser recheada de ar, está região é vulnerável a variação de pressão. A medida que o mergulhador afunda, a pressão da água aumenta e empurra o tímpano para dentro, provocando dor ; se o mergulhador não tomar nenhuma atitude, o tímpano poderá se romper, causando barotrauma do ouvido médio. Para evitar esse tipo de acidente, o mergulhador realiza manobra de Valsalva, assim chamada por ter sido descrita por um fisiologista italiano com esse nome: tapa-se o nariz com dois dedos, mantém-se a boca fechada e expira-se com um pouco de força. Sem opção de saída, o ar caminha pela trompa de Eustáquio, canal membranoso que liga o ouvido à garganta , e chega ao ouvido médio, preenchendo a cavidade e igualando a pressão de dentro com a de fora. Caso a operação seja mal feita e o tímpano pode se romper (o que só uma delicada cirurgia resolve).

Barotrauma pulmonar

Além do ouvido e outros espaços corporais que contém ar, em condições hiperbáricas, ocorrem mudanças na composição de gases dos pulmões. No caso do oxigênio, por exemplo, quanto maior a pressão deste gás no pulmão, maior quantidade será absorvida pelo sangue e dissolvida em todos os líquidos do corpo. Pulmões e árvore respiratória Uma estrutura rígida, a traquéia, vai se ramificando em ramos cada vez menores até que bronquíolos terminam formam os sacos alveolares. Estes mantém grande quantidade de ar no tecido pulmonar, que é bastante elástico. Na pressurização o pulmão é comprimido, se o indivíduo estiver com a respiração contida (apnéia) e a pressão for excessiva, podem ocorrer lesões ao pulmão, caracterizando o barotrauma pulmonar.

Embolia Traumática pelo ar

No mergulho com equipamento ou em câmaras hiperbáricas, o ar deve ser inspirado na mesma pressão que o ambiente, permitindo que o tórax e os pulmões tenham pressão suficiente para sua movimentação, vencendo a pressão que a água ou ar-comprimido faz sobre o peito. Se o indivíduo, nestas condições, respirar ar ou oxigênio sob pressão e conter a respiração em apnéia, no caso de ocorrer uma despressurização súbita (como no mergulho, em uma subida muito rápida à superfície), o pulmão será submetido a uma expansão súbita, com grande aumento de sua pressão interna. Isto poderá ocasionar uma ruptura de alvéolos, entrando ar no espaço pleural. Nesta caso pode haver um colapso do pulmão (pneumotórax), entrada de ar na membrana que reveste o coração (pneumomediastino) o mesmo abaixo da pele do tórax e pescoço (enfisema subcutâneo). Este acidente, muito grave, é denominado embolia traumática pelo ar (E.T.A.).

Considerações finais

A reflexão sobre atividades desenvolvidas em ambientes pressurizados possibilita conhecer e compreender a necessidade de capacitação profissional, seja qual for a vertente de trabalho. No campo de atuação de mergulhadores de alta profundidade, faz-se necessária longa experiência por parte desses trabalhadores, devido ao grande risco de acidentes provenientes da prática de mergulho, além do rigoroso cumprimento das tabelas de descompressão e de toda a legislação pertinente a profissão. Vale salientar que a norma regulamentadora 15 (anexo 6) classifica esse tipo de atividade como insalubre de grau máximo.

A outra vertente do trabalho com ar comprimido com desígnios terapêuticos, realiza suas atividades seguindo as diretrizes de segurança e qualidade expedidas pela Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica que determinam aos profissionais indicados para operar e prestar cuidado aos clientes deverão ser Enfermeiros e técnicos de Enfermagem, atendendo a Lei nº7498/86 que regulamenta o exercício profissional de enfermagem. Apesar de pouco difundida a subespecialidade de Enfermeiro Hiperbárico data de 1950, sendo relatada desde a prática da medicina hiperbárica.

A subespecialidade de Enfermeiro hiperbárico foi formalmente reconhecida em 1985 com a fundação e a incorporação de Baromedical Nurses Association (BNA). Como recomendação inicial, um conhecimento sobre lesões refratárias ajudaria na compreensão do tratamento com Oxigenoterapia Hiperbárica. É importante salientar que o Enfermeiro hiperbárico deve possuir o conhecimento sobre a física relacionada ao mergulho, compreendendo as leis dos gases, e a aplicação destas leis e seus efeitos nos pacientes submetidos à terapêutica.

É importante salientar que na fase de orientação ao cliente o profissional enfermeiro exerce a função de educador, esclarecendo ao cliente como será realizado o tratamento, orientações das rotinas da unidade (horário de chegada, adereços e adornos, perfumes e cremes e etc.), e os procedimentos dentro da câmara hiperbárica.

As atividades hiperbáricas se evidenciam como um campo de atuação profissional bastante promissor observa-se que mergulhadores de águas profundas possuem média salarial de R$ 12.000 a R$ 15.000 reais por mês, sendo considerado por alguns especialistas como a segunda profissão mais perigosa do mundo. Em contrapartida, os trabalhadores de câmaras hiperbáricas para tratamento médico ainda são pouco valorizados tendo seus proventos cerca de 20% a mais que a média salarial de um profissional da área Enfermagem da região sudeste do Brasil.

Por fim, as profissões que são exercidas sob ar comprimido com pressões acima do seu nível normal exige que esses profissionais tenham uma qualificação constante com certificação das Instituições formadoras competentes com experiência no ensino da especialidade. A legislação brasileira ainda exige que os trabalhadores tenham a periodicidade de seus exames ocupacionais de forma semestral com intenção de prevenir acidentes e patologias desta atividade.

Referências

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