Esta ciência trata da saúde do trabalhador, e utiliza estratégias para avaliação da
exposição a contaminantes atmosféricos que oferecem riscos ocupacionais. Sendo assim
tão específica, os higienistas não deveriam, por exemplo, objetivar unicamente a
caracterização de insalubridade ou o estabelecimento de benefícios sociais. Estes são
detalhes legais necessários, mas não específicos da higiene.
O método de trabalho ocupacional inclui as seguintes etapas: antecipação do risco,
a identificação de riscos potenciais antes que eles venham a se tornar um risco real;
identificação do risco, com estabelecimento da relação dose-resposta; avaliação da
exposição com caracterização do risco; e controle dos mesmos, com implementação de
mecanismos corretivos ou prevencionistas.
É preciso considerar que o progresso gerado pelo trabalho nem sempre precisa
estar associado com prejuízo para a saúde do trabalhador, pois os riscos ocupacionais
podem e devem ser controlados pela atividade do higienista ocupacional, quase sempre
através da implementação de programas prevencionistas de natureza Multidisciplinar.
Portanto, a importância do higienista ultrapassa os limites do ambiente de trabalho,
sendo que suas ações reduzem impactos ao meio-ambiente em geral.
O ideal seria que houvesse antecipação dos riscos, como objetivo de identificar as
fontes dos mesmos, a fim de evitá-los antes que os locais de trabalho fossem
construídos, os equipamentos instalados e os processos operacionais planejados.
Porém, como não vivemos em um mundo ideal, os riscos existem. A identificação dos
mesmos é etapa fundamental da metodologia de trabalho, e compreende o
reconhecimento de riscos de natureza física, química ou biológica. Em alguns casos,
existem “riscos escondidos”, que também devem ser criteriosamente investigados.
O reconhecimento dos riscos requer, pelo menos, dois tipos básicos de ação: a
coleta de informações e a visita ao local de trabalho, embora nem sempre o
conhecimento dos efeitos nocivos de um agente de risco seja suficiente para o
estabelecimento de ações posteriores. Por exemplo: “tóxico” nem sempre oferece risco,
cujo grau depende das condições da exposição, como o tipo de equipamento, a fonte dos
contaminantes, o estabelecimento dos valores máximos de concentração, as
propriedades dos materiais, a descrição das tarefas dos trabalhadores expostos, o tempo
e a tipologia da exposição etc.
Já a avaliação da exposição determina se a ação preventiva é necessária, se as
medidas de controle são eficientes, se um certo agente causa risco e qual a dose
realmente recebida pelo trabalhador. As principais propriedades a serem avaliadas
dependem, como já vimos, do tipo de agente, como a sua capacidade toxicológica e as
suas características físico-químicas.
O grau de exposição é determinado a partir da concentração do agente no ar, da
duração da exposição e da possibilidade de entrada no organismo (via respiratória, pele,
ingestão).
Reconhecido o agente prejudicial e avaliado o grau de exposição, é necessário
interpretar os resultados com base em normas ou regulamentos adotados, como os
“limites de exposição ocupacional”, também denominados “limites de tolerância” ou
“concentrações máximas permitidas”.
Os limites de exposição ocupacional podem ser expressos por “concentração média
ponderada em função do tempo” (muitas vezes inadequado) ou por “limites para
exposições curtas”. Quinze minutos de exposição podem ser fatais, pelo risco oferecido
por um determinado agente, e insignificante para outro tipo de agente. Mas a
concentração de teto é um limite que não deve ser ultrapassado nunca. A estratégia de
amostragem é pouco fundamental para que se obtenha resultado adequado de análise
(cf. artigo “Como escolher laboratório de higiene ocupacional”, publicado no ABHO
Atualidades Julho-Agosto 2000, disponível também no site www.abho.com.br).
O controle de riscos depende, portanto, do trabalho multidisciplinar, incluindo as
medidas ambientais de engenharia. Uma medida de engenharia pode alterar
permanentemente o ambiente de trabalho, a maquinária e os equipamentos, que devem
ser adequados na qualidade e na quantidade.
A referência ao trabalho multidisciplinar é justificada pelo fato de haver necessidade
de trabalho de equipe integrado. Pelo menos 20 especialidades são indicadas pela
ACGIH. Afinal, além do método de trabalho adotado pelo higienista, a manutenção da
saúde do trabalhador requer outras medidas, partes integrantes das estratégias de
controle, e que incluem medidas administrativas, como limitação do tempo de exposição
a agentes de alto risco, rotação de trabalhadores, educação ambiental de EPIs, sendo
que estes são a última opção para o controle.
Monitoração ambiental também é estratégia de controle, assim como exames
médicos periódicos, planejamento de descarte de resíduos industriais etc.
É certo que a multiplicidade dos fatores de risco exige planejamento minucioso da
atuação da “equipe de higiene ocupacional”, pois atividades isoladas (ex.: avaliação de
um contaminante atmosférico ou um projeto para ventilação industrial) são um lado de
ação, mas é preciso considerar os múltiplos aspectos que envolvem a saúde de uma
coletividade.
O artigo de Berenice Goelzer, “Estratégia para avaliação da exposição ocupacional a contaminantes
atmosféricos nos ambientes de trabalho” – Programa de Saúde Ocupacional Organização Mundial de Saúde, foi adaptado para a ABHO e revisado por José Manoel Osvaldo Gana Soto
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