quarta-feira, outubro 01, 2008

EFEITOS DA VIBRAÇÃO SOBRE OS OPERADORES DE MÁQUINAS



A vibração é definida por IIDA (1990), como qualquer movimento que o corpo executa em torno de um ponto fixo. Na prática, as vibrações consistem de uma mistura complexa de diversas ondas com freqüências e direções diferentes. A partir da análise desses componentes é possível calcular um nível médio das vibrações. Esse nível médio pode ser usado para se estimar o impacto dessas ondas no corpo humano (DUL & WEERDMEESTER, 1995).

Para medir a vibração, segundo IIDA (1990), utiliza-se normalmente de três variáveis: a freqüência, medida em ciclos por segundo ou hertz (Hz); a intensidade do deslocamento (em cm ou mm) ou aceleração máxima sofrida pelo corpo em g (1 g = 9,8 m/s²) e a direção do movimento, definida por três eixos triortogonais: X (das costas para a frente), Y (da direita para a esquerda) e Z (dos pés para a cabeça).


A transmissão das vibrações nas máquinas se dá por intermédio das partes do corpo que entram em contato mais direto com a fonte, geralmente as nádegas, as mãos, os braços, as pernas, as costas e os pés (FIEDLER, 1995).

As máquinas florestais e agrícolas em geral provocam vibrações no posto de trabalho que levam a diversos efeitos nos operadores, variando desde o enjôo, passando por sensações de desconforto, até danos físicos consideráveis, dependendo principalmente de variáveis do projeto da máquina e das manutenções executadas.



EFEITOS DAS VIBRAÇÕES SOBRE O CORPO H
UMANO




Os efeitos das vibrações no trabalhador, segundo ROBIN (1987), são influenciados
por três variáveis: a freqüência (expressa em hertz); o nível (m/s²) e a duração
(tempo).
Em operadores de motosserra, MINETTE (1996) mostrou que as vibrações
causam perda de equilíbrio, falta de concentração, diminuição da acuidade
visual, visão turva e perda de rendimento no trabalho. Para MURRELL (1979), as
vibrações além de afetar o rendimento no trabalho, causam fadiga no trabalhador.
Além disso, as vibrações podem interferir no sistema nervoso, tornando os
trabalhadores sensíveis e irritados (VERDUSSEN, 1978).
A exposição dos
trabalhadores à vibração na colheita florestal pode ser parcial ou total,
conforme as partes do corpo em contato com as fontes. Analisando sob o ponto de
vista da medicina do trabalho, SMITH e THOMAS JUNIOR (1993) citam que a
exposição parcial mais perigosa é a das mãos e dos braços dos trabalhadores,
causada por ferramentas motorizadas, como a motosserra. As vibrações totais
estão presentes nos tratores florestais e agrícolas. Estes autores salientam que
a exposição total causa incômodo, redução de produtividade e toda uma série de
sintomas físicos que incluem náuseas e micro fraturas nos ossos.
Uma vibração
intensa transmitida por ferramentas manuais propaga-se pelas mãos, braços e
corpo do operador e pode causar dormência dos dedos e perda de coordenação
motora. Inúmeras máquinas usadas na indústria, como furadeiras elétricas,
rebitadores, peneiras vibratórias e motosserras provocam enjôos, interferência
na fala e confusão visual. A exposição continuada pode levar a lesões da coluna
vertebral, desordem gastrointestinal e perda do controle muscular de partes do
corpo (IIDA, 1990).
A atuação da vibração nos eixos vertical, transversal e
longitudinal do corpo provoca efeitos diferentes. Em estudo com operadores de
serras motorizadas e de tratores agrícolas de pneus, ROBIN (1987) destaca a
nítida influência que a aceleração vertical tem sobre o corpo humano. Com
relação aos valores de maior sensibilidade, IIDA (1990) cita que no sentido
longitudinal do corpo (eixo z dos pés a cabeça), o organismo é mais sensível na
faixa de 4 a 8 Hz, enquanto no sentido transversal (eixos x e y), o corpo é mais
sensível nas faixas de 1 a 2 Hz. As vibrações de baixa freqüência (4 a 20 Hz) e
acelerações de 0,06 a 0,09 g são particularmente incômodas, causando náuseas e
vômitos. As vibrações de freqüências muito baixas, inferiores a 1 Hz, como
aquelas provocadas por ondas do mar, também causam enjôos, ânsias de vômito e
indisposição geral. Estas ondas (principalmente de 1 a 80 Hz) são mais danosas,
provocando lesões nos ossos, juntas e tendões.
O que é bastante claro e que
muitas vezes passa desapercebido por diversos autores, é que o efeito das
vibrações nos trabalhadores não dependem somente de certos valores como por
exemplo determinados níveis de freqüência, mais do efeito conjunto dos níveis de
freqüência, da aceleração ou intensidade do deslocamento, da direção do
movimento, do tempo de exposição diária e do tempo de convivência do trabalhador
com estas vibrações. Estes efeitos são ainda pouco conhecidos, principalmente
por não serem imediatos.
De acordo com ARBETSMILJOINSTITUTED et alii (1990),
a intensidade da vibração é principalmente dependente da estrutura do solo, do
desenho da máquina (suspensão, localização da cabina, pneus), da velocidade, da
técnica de dirigir e, em máquinas de colheita florestal, a disposição e
intensidade da galhada também influenciam.
Com relação ao excesso de vibração
nas mãos, este pode provocar o sintoma do “dedo branco”, que é originado da
falta de circulação de sangue nos dedos, tornando-os descoloridos, ficando frios
e insensíveis. Se o processo for demorado e não corrigido a tempo, pode provocar
necrose das pontas dos dedos. Tal situação agrava-se com o frio.
Desde o
surgimento dos primeiros tratores, segundo ROBIN (1987), foram constatados danos
consideráveis na coluna vertebral dos operadores e que grande parte desses danos
eram provocados pelas vibrações das máquinas. Em publicação lançada em 1960,
ROSEGER & ROSEGER citados pelo autor acima, divulgaram os resultados de suas
pesquisas sobre danos na coluna vertebral de trabalhadores em diversas
profissões. Neste estudo concluiu-se que 70% dos operadores de tratores
agrícolas com idades compreendidas entre 20 e 29 anos apresentaram problemas na
coluna vertebral, sendo superados somente pelos trabalhadores em minas e
motoristas de caminhão. Estes resultados refletem a falta de preocupação dos
projetistas e construtores de máquinas com o trabalhador, que é o principal
responsável pela produção. Muitas destas condições ainda persistem atualmente,
apesar de uma melhoria considerável.
Alguns dos sintomas provocados pelas
vibrações são reversíveis, reduzindo-se após um longo período de descanso. No
entanto, retornam rapidamente se o organismo for exposto novamente a estas ondas
(IIDA, 1990).


MEDIÇÃO DAS VIBRAÇÕES

A vibração, segundo Mirshawka, citado por FIEDLER (1995), pode ser medida mediante captores colocados em pontos particulares na máquina (acelerômetro). Dessa forma, pode-se registrar as vibrações transmitidas pela estrutura à máquina e, graças ainda a sua análise, identificar a origem dos esforços aos quais ela está submetida.
Para ARBETSMILJOINSTITUTED et alii (1990) uma avaliação real da relação entre o desconforto percebido pela vibração corporal e o nível de aceleração deve ser feita com a medição da vibração em dois ou três eixos do corpo humano
Após a medição dos valores das vibrações nas máquinas, estas devem ser comparadas com os limites aceitáveis de acordo com as normas em vigor e com os limites definidos por especialistas no assunto em cada parte do corpo. A partir desses resultados tem-se o conhecimento da existência ou não de problemas para o trabalhador em sua máquina.


LIMITES DEFINIDOS POR NORMAS

Reconhecendo os danos provocados pelas vibrações no corpo humano, a “International Standard Organization”(ISO) lançou em 1978 a ISO 2631, que foi baseada fundamentalmente na influência que as vibrações tem sobre os usuários de veículos de transporte, onde, segundo ROBIN (1987), são estabelecidos três critérios fisiológicos principais:
· assegurar a capacidade de trabalho estabelecendo um limite de capacidade reduzida por fadiga;
· assegurar a saúde e a segurança do trabalhador, estabelecendo um limite de exposição diária, em função da freqüência e da amplitude da vibração;
· assegurar a comodidade do usuário, estabelecendo um limite de conforto reduzido.
O autor acima cita ser importante observar que esses limites das normas foram estabelecidos para vibrações em sentidos de direção definidos e, muito embora nas máquinas em uso nos setores florestal e agrícola se verifica que as vibrações verticais são as que provocam maiores danos ao operador, deve-se considerar que dependendo do projeto do posto de trabalho, o operador realiza diversas fases do ciclo de trabalho com o corpo torcido (olhando para trás) e em determinadas operações com o assento inclinado.
O organismo humano, segundo IIDA (1990), em função da complexidade da estrutura, composta de diversos ossos, articulações, músculos e órgãos, não reage uniformemente ao efeito das vibrações, sendo que cada parte pode tanto amortecer como amplificar estas ondas. Essas amplificações ocorrem quando partes do corpo passam a vibrar na mesma freqüência. A esse fenômeno dá-se o nome de ressonância, sendo que as freqüências que provocam esse fenômeno são chamadas de freqüências de ressonância. Na prática podemos imaginar essas freqüências da seguinte forma: se um homem ficar de pé sob uma plataforma vibratória, que começa a vibrar lentamente e vai aumentando, veremos em cada instante, uma determinada parte do corpo vibrando com maior intensidade e, depois, com o aumento progressivo da freqüência, essa parte pára, como se tivesse sido desligada da máquina e uma outra parte começa a vibrar. O organismo humano é mais sensível às vibrações com estas características e fora dessas freqüências a resistência do corpo humano tende a aumentar. O importante no projeto de máquinas e equipamentos é evitar essas freqüências.



PREVENÇÃO DAS VIBRAÇÕES


Para reduzir o problema das vibrações existem
diversas providências que os projetistas podem adotar como a eliminação da
fonte, isolamento da fonte, manutenção regular das máquinas, adoção de
mecanismos de redução da transmissão e proteção ao trabalhador (ROBIN, 1987;
IIDA, 1990; DUL & WEERDMEESTER, 1995).
Para eliminação das fontes das
vibrações, deve-se atuar no projeto das máquinas, a partir do conhecimento de
que o uso de certos mecanismos são mais favoráveis que outros. Os movimentos de
rotação produzem menos vibração que os de translação, as transmissões
hidráulicas e pneumáticas são melhores que as engrenagens e máquinas pesadas com
uma grande massa também vibram menos (DUL & WEERDMEESTER, 1995). Para IIDA
(1990), deve-se conhecer e estudar particularmente as vibrações que provocam
ressonâncias, pois estas são mais prejudiciais. A partir daí, deve-se
eliminá-las. O autor cita também que as vibrações podem ser eliminadas por meio
de lubrificações e manutenções mais periódicas das máquinas e equipamentos, ou
colocando-se calços de borracha absorvedores.
Quando não for possível a
eliminação da fonte, ou esta for eliminada parcialmente, deve-se fazer um
isolamento da fonte para reduzir a transmissão das vibrações. Isto pode ser
conseguido pelo afastamento da fonte do trabalhador ou usando-se algum tipo de
material isolante, como o revestimento do piso e pegas das alavancas e
ferramentas com material antivibratório, além de usar um melhor estofamento no
assento para absorver as vibrações, mesmo que parcialmente. O que também pode
ser feito é a colocação de um amortecedor pneumático nos pés dos assentos, com o
mesmo propósito (ROBIN, 1987; IIDA, 1990; DUL & WEERDMEESTER, 1995). As
máquinas com o tempo e uso sofrem um desgaste natural, ficam frouxas, as vezes
perdem-se peças, ficam desalinhadas e desbalanceadas. Tudo isso é fonte de
vibrações. Uma manutenção regular, como já citado, pode prevenir esses problemas
(FIEDLER, 1995).
Uma última medida a ser tomada, que é uma medida ergonômica
curativa e não preventiva, é a proteção do trabalhador com certos equipamentos
como botas e luvas, que ajudam a absorver as vibrações. O que deve ser levado em
conta e observado cuidadosamente, segundo IIDA (1990), é que esses equipamentos
são eficientes em apenas algumas freqüências de vibração.
Outra forma de
prevenção é a diminuição do tempo de exposição, com a introdução de pausas de
recuperação a cada hora trabalhada e adoção de sistemas de trabalho onde o
operador realiza outras funções, não ficando somente no interior da
máquina.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O operador de máquinas florestais e agrícolas está
exposto a vibrações constantes no seu ambiente de trabalho. Tais vibrações
dependendo dos níveis, tempo de exposição e forma de atuação no corpo são muito
prejudiciais ao trabalhador, causando desde sensações de enjôo e problemas de
visão até microfraturas nos ossos.
As medições freqüentes dos níveis e
comparação com os limites recomendados pela legislação são muito importantes
para que se houver necessidade, sejam tomadas medidas para a redução desses
níveis e mudanças nas condições de trabalho. O conhecimento desses valores é de
fundamental importância também nas futuras aquisições de máquinas pelas
empresas, optando por sistemas projetados que ofereçam menores índices de
vibração para os operadores.
A aplicação desses conhecimentos nos sistemas de
trabalho é de fundamental importância para a manutenção dos níveis de saúde,
segurança, conforto e satisfação no trabalho, elevando conseqüentemente a
produtividade, eficiência e qualidade do trabalho
.
7. BIBLIOGRAFIA
ARBETSMILJOINSTITUTED; FORSKINGSSTIFTELSEN SKORGSARBETEN; SLU SKOGSHOGSKOLAN An ergonomic checklist for forestry machinery. Oskarshamn, 1990. 43 p.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática.(Traduzido por Itiro Iida) São Paulo, Edgard Blucher, 1995. 147 p.
FIEDLER, N. C. Avaliação ergonômica de máquinas utilizadas na colheita de madeira. Viçosa, UFV, 1995. 126 p. (Tese M.S.).
IIDA, I. Ergonomia; projeto e produção. São Paulo, Edgard Blucher, 1990. 465p.
LAVILLE, A. Ergonomia. São Paulo, EPU, USP, 1977. 99 p.
MINETTE, L.J. Problemas relacionados à ergonomia de equipamentos empregados nas atividades operacionais de manejo de florestal tropical. Viçosa, UFV, 1994. 22 p. (Exame de Qualificação – não publicado)
MINETTE, L. J. Análise de fatores operacionais e ergonômicos na operação de corte florestal com motosserra. Viçosa, UFV, 1996. 211p. (Tese D.S.).
MIRSHAWKA, R.M. Manutenção preditiva; caminho para zero defeitos. São Paulo, Edgard Blucher, 1977. 635 p.
MURRELL, H. Ergonomics; man in his working environment. New York, London Chapman and Hall, New York, 1979. 496 p.
ROBIN, P. Segurança e ergonomia em maquinaria agrícola. São Paulo, IPT, 1987. 24 p.
SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. 27 ed. São Paulo, Atlas, 1996. 415 p. (Manuais de Legislação Atlas, 16).
SMITH, L.A.; THOMAS JR. R.E. Investigaciones sobre ergonomia en el sudeste de los Estados Unidos. Unasylva, vol. 44, 1993. P. 38-44.
VERDUSSEN, R. Ergonomia; a racionalização humanizada do trabalho. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978. 161 p.



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